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Melhoramento Genético de Peixes: A experiência com a Tilápia GIFT em Maringá


Publicado em: 03/06/2011 12:25 | Categoria: Geral | Autor: Ana Maria Ferrarini

 

Artigo

Pouco esforço tem sido feito para o melhoramento genético de peixes de espécies tropicais. Faltam pesquisas para conferir se os ganhos genéticos obtidos em outras espécies de animais possam ser também obtidos em peixes tropicais, os quais contribuem com 90% da produção aquícola global (Gupta & Acosta, 2004).

Reconhecendo esses problemas, o ‘WorldFish Center’ iniciou um projeto para o desenvolvimento de métodos de melhoramento genético de peixes tropicais, utilizando a Tilápia-do-Nilo (WorldFish Center, 2004). Este projeto foi denominado ‘Genetic Improvement of Farmed Tilapias (GIFT)’ e tem cumprido um importante papel na história do melhoramento de peixes tropicais, contribuindo para a publicação de vários artigos (Bentsen et al., 1998; Gall & Bakar, 2002; Ponzoni et al., 2005) e com a difusão de linhas melhoradas aos produtores.

Para que se proceda a seleção, os animais precisam ser avaliados quanto aos seus valores genéticos. Um bom conhecimento dos parâmetros genéticos torna possível uma estimação precisa do valor genético dos candidatos à seleção na população, assim como a predição da potencial resposta de seleção.

A partir da importação, em março de 2005, de 30 famílias da linhagem GIFT de Tilápia-do-Nilo, da Malásia, na Universidade Estadual de Maringá deu-se início ao desenvolvimento de uma variedade melhorada adaptada às condições brasileiras de cultivo.

As herdabilidades para peso corporal e mortalidade na espécie de Tilápia-do-Nilo podem ser consideradas de baixa a moderada (Lopes-Fanjul & Toro, 1990; Ponzoni et al., 2005). Quando os dados são medidos nos candidatos a seleção e os animais são identificados individualmente é possível proceder-se a seleção combinando essas informações. Segundo Gall & Bakar (2002), os custos adicionais de obtenção de informações de pedigree completo devem ser mais que compensados pelo ganho em seleção.

Entretanto, os parâmetros genéticos encontrados são aplicáveis apenas na população e no ambiente onde eles foram obtidos. Além disso, os parâmetros podem mudar todo o tempo, particularmente em populações relativamente pequenas sob seleção. Assim, torna-se imprescindível para o estabelecimento de um programa de seleção um delineamento experimental para o estudo prévio das características em questão, mesmo que sejam características já estudadas em outro momento, sob outras condições.

Métodos Utilizados

O critério de seleção tem características estreitamente relacionadas, mas não necessariamente idênticas, às características do objetivo do cruzamento. O objetivo do cruzamento significa “aonde vamos” com o programa de melhoramento genético, enquanto o critério de seleção significa “como atingiremos isso”. O critério de seleção representa as características que se usam na estimativa dos valores de cruzamento e o mérito genético geral dos animais.

O sistema de avaliação genética pode variar de algo muito simples, envolvendo seleção massal, até algo muito mais complexo, envolvendo a adaptação de um modelo animal para os dados. Como os peixes são identificados individualmente (“tagged”), é possível manter as informações dos “pedigrees” e a utilização do procedimento BLUP (Best Linear Umbiased Prediction), estimando os valores de cruzamento (EBVs) e combinando a informação disponível.

O procedimento BLUP é uma alternativa melhor do que a seleção massal ou a seleção clássica entre e dentro das famílias. Na estimativa dos valores de cruzamento pelo BLUP, é utilizada a informação tanto de cada individuo como daqueles relacionados na população.

O ideal seria somente reproduzir os “melhores” indivíduos. Na prática precisa-se assumir um compromisso entre a intensidade de seleção e o tamanho efetivo da população para manejar o risco da consanguinidade. O aumento da consanguinidade é proporcional a ½ Ne, onde Ne é o tamanho efetivo da população. É necessário um Ne relativamente grande para:

1. Manter a variação genética na população em longo prazo;
2. Manejar a consanguinidade;
3. Aumentar o limite de seleção;
4. Ter respostas previsíveis para a seleção.

Com a informação do “pedigree” completo, a consanguinidade poderá ser manejada de forma mais efetiva, evitando-se o cruzamento de indivíduos estreitamente relacionados. O “software” permite a seleção para altos EBVs e ao mesmo tempo restringe a taxa de consanguinidade em um valor pré-determinado (Meuwissen, 2002). Depois do acasalamento inicial para estabelecer a população base, são utilizados 60 machos e 120 fêmeas de cada geração. Uma vez que um grande número desses acasalamentos tenha sucesso, isto permite um satisfatório tamanho efetivo da população, o qual integrado com medidas para evitar a consanguinidade, tem produzido um ganho genético sustentado durante várias gerações.

Sistema de disseminação do estoque melhorado

O melhoramento genético tipicamente ocorre numa pequena parte da população. O melhoramento obtido na “elite” dos animais superiores no Centro de Melhoramento Genético da UEM é multiplicado e disseminado ao sistema de produção.

A implementação do programa em um número relativamente pequeno de animais pode ser suficiente para servir uma grande população envolvida na produção. O tamanho relativo do setor da população envolvido na seleção, multiplicação e produção, é examinado para permitir uma transferência efetiva do ganho genético ao setor produtivo.

Para maximizar os benefícios do programa de cruzamento, o melhoramento genético chega ao setor produtivo sem demora. Com este objetivo, somente deve ser usado o estoque melhorado. A disseminação da população melhorada está baseada na multiplicação do estoque melhorado em cada geração. Depois que a produção das famílias de meio-irmãos do cruzamento da população for realizada, os parentes selecionados vão ser utilizados para a produção massal de alevinos. A progênie dos parentes selecionados, quando atingem a maturidade sexual, torna-se o “TOP” da qualidade genética do estoque cruzado, seguido da progênie dos cruzamentos obtidos do melhor 1/3 da população.

Controle para estimar o ganho genético (monitoramento)

Estabelecer um procedimento de controle do ganho genético em um programa de melhoramento não é um requerimento obrigatório para se obter resposta à seleção. Incluir uma rotina para o controle do ganho genético pode, todavia, tornar possível a checagem para se avaliar que o que foi feito foi válido ou não, ou se o programa precisa de ajustes por outras razões.

Nas avaliações a campo, os resultados têm superado as expectativas dos coordenadores do Programa. Tanto em tanques escavados quanto em tanques-rede. A tilápia GIFT tem demonstrado ganhos superiores às demais linhagens testadas. Alguns dados são demonstrados abaixo.

Valores médios obtidos para Peso Final (PF), Ganho em peso (GP) e Peso de Filé (PFI) das três linhagens de tilápia O. niloticus, submetidas a dois níveis de Proteína Bruta (PB), 25 e 30%, aos 204 dias em tanques escavados e sem renovação de água, no ano de 2007.

 


Valores médios obtidos para Ganho em peso (GP), Ganho em Peso Diário (GPD), Conversão Alimentar Aparente (CAA), Sobrevivência (em %) e Rendimento de Filé das três linhagens de tilápia O. niloticus, submetidas a cultivo em tanques-rede no Rio do Corvo – Paraná, por 151 dias de cultivo, no ano de 2008.

O Programa de Melhoramento da tilápia GIFT apresentado nesta matéria tem caráter público e todos têm acesso aos reprodutores melhorados. A estrutura de trabalho é pequena, portanto não é possível a produção em massa de alevinos revertidos, sendo assim a Coordenação do Projeto orienta os interessados a adquirem reprodutores da linhagem diretamente em Maringá, entrando em contato e programando a retirada destes animais a um custo baixo e, de acordo com a disponibilidade, cabendo então aos produtores alevinos que participarem do Programa a comercialização de alevinos revertidos. Não queremos e não podemos competir com a iniciativa privada.

Por Ricardo Pereira Ribeiro e Lauro Vargas, docentes da UEM e coordenadores do Programa Peixegen
ricardo.peixegen@gmail.com


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