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O uso de lentes intra-oculares acrílicas dobráveis


Publicado em: 14/12/2007 09:47 | Categoria: Geral

 

Artigo


Além de avascular, o cristalino não possui inervação e é formado por 1/3 de proteínas, 2/3 de água e demais componentes (lipídeos, aminoácidos, eletrólitos e carboidratos) contando com 1%. É esta grande quantidade de proteínas que dá ao cristalino um elevado índice de refração da luz, que juntamente com a capacidade de acomodação, constitui-se na sua principal função (Gelatt K.N. 2007).

O termo catarata pode ser usado para definir uma opacificação parcial ou completa do cristalino, impedindo a passagem da luz e causando perda parcial ou completa da visão (Newton K.J. et al. 2000). O mecanismo básico da formação da catarata é dado pelo desarranjo protéico lenticular e dentre as causas principais podemos citar a hereditariedade, diabetes melito (hiperglicemia), Inflamações intra-oculares, traumas oculares, degeneração avançada da retina, substâncias tóxicas e radiações (Ramsey D.T. et al. 2000).

A catarata aparece mais comumente em cães do que em gatos sendo as raças Poodle Toy, Cocker Spaniel, Schnauzer, Pequinês e Dachshund mais predispostas (Slatter D. 2001). O único tratamento existente para a catarata é sua remoção cirúrgica, sendo que o procedimento de eleição para tal é a facoemulsificação (fragmentação da lente com uso de ultra-som) [Glover, T.D., Constantinescu, G.M. 1997].

A moderna cirurgia de facoemulsificação, desenvolvida por Charles Kelman em 1967, foi um grande marco na evolução do tratamento da catarata. Outro passo importante foi a invenção das lentes intra-oculares pelo Dr. Harold Ridley em 1949, que ao atender pacientes com lesões oculares perfurantes devido a explosão dos cockpits de aeronaves durante a Segunda Guerra mundial, notou que o acrílico que constituía tais partes era um material inerte no meio intra-ocular, transparente e com auto índice de refração. Estas primeiras lentes eram grandes e pesadas e causavam muitas complicações. Dez anos se passaram até que Cornelius Birkhorst aprimorou o modelo de Ridley, bem como a técnica para seu implante. Hoje em dia as lentes intra-oculares são muito avançadas, dobráveis, ou seja, podem ser inseridas através de incisões mínimas, multifocais (visão detalhada de perto e de longe) e existem lentes especialmente desenvolvidas para cães, atendendo suas necessidades com relação à dioptrias e formato necessário para as diferentes raças.

O implante de lentes intra-oculares em animais é um grande diferencial na cirurgia de catarata, sendo que elas melhoram muito a visão de perto e o detalhe da imagem obtida. Os pacientes que não implantam uma lente se comportam muito bem no dia a dia, mas possuem 14 D de hipermetropia, têm uma visão fora de foco, imagem aumentada e tipo como a de um espelho e com estereoscopia (visão 3 D) prejudicada.

A facoemulsificação com implante de lente intra-ocular acrílica dobrável é uma excelente opção para o tratamento da catarata e apresenta resultados muito favoráveis, em comparação à técnica antiga de facectomia extracapsular. O tempo cirúrgico é menor, as incisões são menores, o desconforto pós-operatório mínimo, as inflamações são bem mais discretas e o sucesso cirúrgico chega a mais de 95% dos casos.

Deve-se lembrar que o quanto antes realizada a facoemulsificação, maiores são as chances de um resultado favorável e a possibilidade de implante de uma lente intra-ocular. Isto justifica-se pois as opacificações da cápsula posterior são mais comuns nas cataratas maduras e quando temos áreas muito extensas de opacidade o implante de lente fica contra-indicado (Miller, T.R., Whitley, R.D., Meek, L.A. et al. 1987), a não ser que estas sejam removidas através de YAG-laser ou de uma capsulorréxis posterior.

Referências Bibliográficas

1. Evans H.E. 1993. Miller´s Anatomy of the Dog, 30 ed., Toronto: WB Saunders, p.1038-1039.

2. Gelatt K.N. 2007. Veterinary Ophthalmology. 4o ed. Lippincott Willians & Wilkins, pp. 98 – 109.

3. Glover, T.D., Constantinescu, G.M. 1997. Surgery for cataracts. Veterinary Clinics of North America. V.27, pp.1143 – 1173.

4. Magrane Basic Science Course in Ophthalmology. 1998. Short Course on Ocular Pathology. The Histologic Basis of Ocular Disease. University of Wisconsin – Madison. Class Notes, vol.1, p.79-84, ACVO.

5. Miller, T.R., Whitley, R.D., Meek, L.A. et al. 1987. Phacofragmentation and aspiration for cataract extraction in dogs: 56 cases. Journal of American Veterinary Medical Association. N. 190, pp. 1577 – 1580.

6. Newton K.J. et al. 2000. Atualidades em Oftalmologia. vol II . Roca.

7. Ramsey D.T. et al. 2000. Veterinary Ophthalmology (lecture notes). 5o ed. Michigan State University.

8. Slatter D. 2001. Fundamentals of Veterinary Ophthalmology. USA: W.B. Saunders Company, pp. 381 – 386.


Por João Alfredo Kleiner, médico veterinário especialista em Oftalmologia Veterinária pelo American College of Veterinary Ophthalmologist (ACVO). Contatos: docjak@vetweb.com.br (41) 3352-2662


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